Livro: Fala e a Escrita
Luiz Antônio Marcuschi e Ângela Paiva Dionísio (Organização)
Beth Marcushi
Cristina Teixeira V. de Melo
Judith Hoffnagel
Luiz Antônio Marcushi
Maria Lucia F. de F. Barbosa
Marianne C. B. Cavalcante
Ângela Paiva Dionísio
Cap. Oralidade e letramento como práticas sociais (Luiz
Antônio Marcuschi)
A língua é um conjunto de
práticas discursivas em que se manifesta e funciona em dois modos fundamentais:
como atividade oral e como atividade escrita. Para compreendermos a oralidade e
o letramento é necessário que façamos distinção entre duas práticas e perceber
a diferença entre lidar com formas linguísticas e lidar com práticas sociais.
O aspecto das formas
linguísticas e das atividades de formulação textual faz parte das duas
modalidades que é a relação entre fala e escrita.
A “fala” se refere às formas
orais do ponto de vista do material linguístico e de sua realização textual –
discursiva. A “escrita” refere-se para designar as formas de textualização na
escrita. Fala e escrita são muito mais do que dois códigos, pois têm formas de
significação que lhes são próprias.
Portanto, quando tratamos da
fala e/ou escrita, lidamos com formas linguísticas. E quando falamos em
oralidade e letramento referimo-nos às práticas sociais ou práticas discursivas
nas duas modalidades.
Letramento diz respeito às
práticas discursivas que fazem uso da escrita. Uma pessoa pode ser letrada sem
ter ido à escola, pois ela tem um letramento espontâneo. Existem vários
letramentos, que vão desde um domínio muito pequeno e básico da escrita até um
domínio muito grande e formal.
(Marcuschi apud Stubbs
2007,p.33) “ O termo oralidade é usado para “referir habilidades na língua
falada”. Compreende tanto a produção (fala como tal) quanto a audição ( a
compreensão da fala ouvida).”
A fala é adquirida
espontaneamente no contexto familiar, e a escrita geralmente apreendida em
contextos formais de ensino.
Letramento são as
habilidades de ler e escrever enquanto práticas sociais. É importante
esclarecer que letramento e alfabetização distinguem-se, pois letramento é o
processo mais geral que designa as habilidades de ler e escrever diretamente
envolvidas no uso da escrita como tal, escrita como prática social. Já
alfabetização é o processo de letramento em contextos formais de ensino, por um
processo de escolarização, organizado em séries e sistematizado.
“Um
indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado
é aquele que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, indivíduo que vive em
estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa
socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas
sociais de leitura e escrita.” (Marcuschi apud Soares 2007, p.34)
Esse letramento pode dar-se
de modo muito complexo, indo desde um domínio muito baixo até um domínio muito
alto da escrita. Os usos da escrita são hoje muito diversificados, de acordo
com o indivíduo e sua necessidade.
Há distinção entre “fala e a
escrita” de um lado, e “ letramento e oralidade” de outro, ambos deixam claro
que estabelecem relação no âmbito da língua como tal e ali se definem (relações
entre fala e escrita).
A oralidade diz respeito a
todas as atividades orais do dia-a-dia, e as atividades do letramento dizem
respeito aos mais variados usos da escrita, inclusive por parte de quem é
analfabeto. A expressão letramento vem se especializando para apontar os mais
variados modos de apropriação, domínio e uso da escrita como prática social e
não como uma simples forma de representação gráfica da língua.
Em suma, podemos afirmar que:
a)
Não há uma dicotomia real entre a oralidade e
letramento, seja do ponto de vista das práticas sociais, dos fenômenos
linguísticos produzidos e dos eventos nos quais ambas as práticas se acham
presentes;
b)
Oralidade e letramento são realizações
enunciativas da mesma língua em situações e condições de produção específicas e
situadas que exigem mais do que uma simples habilidade linguística, mas um
domínio da vida social;
c)
Letramento é uma prática social estreitamente
relacionada a situações de poder social situada nos domínios discursivos e
muitas vezes se acha fortemente imbricado com práticas orais.
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